Jon Mayer Trio

A presença, este ano, do pianista Jon Mayer tem um significado evocativo muito especial para todos aqueles que, nos idos de 1960, tiveram a oportunidade de o ouvir pela primeira vez tocar entre nós, num clube cuja vida teve curta duração: o CUJ - Clube Universitário de Jazz, inaugurado em 1959 em Lisboa, também ali nas vizinhanças da Praça da Alegria, destinada pelos vistos a albergar parte sinificativa da história do jazz em Portugal.

Jon Mayer integrava então o chamado "New Blues Jazz Sextet", na companhia de outros músicos notáveis, como o contrabaixista Chuck Israels, o clarinetista Perry Robinson, o baterista Alan Dawson ou ainda o saxofonista-barítono belga Jean-Pierre Gebler, "compagnon de route" dos primeiros músicos de jazz portugueses em full time (embora amadores) e figura decisiva para a maioridade do jazz moderno em Portugal.

Mayer começou por se graduar na High School of Music and Arts de Manhattan e passou brevemente pelas salas de aula da Manhattan School of Music. Mas foi na dura labuta diária dos clubes e dos estúdios de gravação que o pianista se formou como músico de parte inteira, frequentando a movimentadíssima cena do jazz de Nova Iorque, tocando ao lado de músicos como Kenny Dorham, Tony Scott ou Pete LaRoca e chegando mesmo a gravar com dois mestres do jazz moderno: Jackie McLean, para o álbum "Strange Blues" (Prestige), e John Coltrane numa sessão, hoje lendária, conhecida por "I Talk With the Trees", finalmente editada em 1990 como parte integrante da reedição em CD do álbum "Like Sonny" de Coltrane para a Roulette.

Depois de alguns anos de actividade nos quais tocou nos EUA e na Europa com a Thad Jones/Mel Lewis Jazz Orchestra, Dionne Warwick, Sarah Vaughan ou os Manhattan Transfer, Jon Mayer abandonou precocemente, por motivos vários, a carreira musical profissional activa tendo regressado à cena do jazz há cerca de década e meia, voltando hoje a tocar em público e a gravar em vários contextos, particularmente com o seu trio.

Admirador confesso de Bud Powell, Bill Evans, Red Garland, Wynton Kelly ou Horace Silver, Jon Mayer é um inveterado fiel à linguagem do bebop (que nunca abandonou) e um talentoso improvisador, pleno de delicadeza técnica e de swing impulsivo.

 textos de Manuel Jorge Veloso