Chick Corea Piano Solo

Falar de Chick Corea é falar de um dos mais fabulosos pianistas que o jazz conheceu até hoje, senhor de uma técnica impressionante que lhe permite estar à altura de todas as exigências que se coloca a si próprio mas também de um talento criativo que, em verdadeiras revoadas, atravessa quer as suas próprias composições quer os standards mais conhecidos, que permanentemente reinventa, sempre deixando as suas marcas inconfundíveis em vários períodos-chave da história do jazz, que ajudou a construir e a definir, desde os já longínquos anos de 1960.

Pode sem margem para dúvidas dizer-se que, a par de um Herbie Hancock e de um Keith Jarrett,Chick Corea é um dos pianistas que de forma mais arrebatadora e criativa continuou, renovando-o, o legado das duas grandes linhas de evolução do piano-jazz moderno, iniciadas com McCoy Tyner ou Bill Evans.

Como se isso não bastasse, Corea foi ainda o autor de composições que, na sua época, se tornaram novos standards do jazz, como "Spain", "La Fiesta", "Windows" ou "Return to Forever", para já não falar na sua participação em discos seminais do jazz de todos os tempos, como os paradigmáticos "Filles of Kilimajaro", "In a Silent Way", "Bitches Brew" ou "At Filmore", nos quais integrou bandas históricas de Miles Davis, ou outras obras discográficas de referência que co-liderou, como "Now He Sings, Now He Sobs" (com Miroslav Vitous e Roy Haynes).

Jamais permanecendo estático ou aquietado num dado percurso musical linear ou contínuo, Chick Corea não se sentiu apenas ou sobretudo atento às exigências de obras conceptuais de grande fôlego, como as já referidas. Pelo contrário, deixando-se ainda arrebatar pelas tentações das várias fusões e crossovers musicais, apaixonado pela música de origem latina, Corea era assim capaz de se sentir ao mesmo tempo à vontade na criação de obras profundamente arreigadas à música popular urbana, tornando-se deste modo um caso único no jazz moderno.

Como alternativa às suas actuações em contextos instrumentais mais alargados - e mesmo em alguns discos mais recentes gravados nos últimos anos, como "Solo Piano: Originals" e "Solo Piano: Standards" (2000), "Past, Present & Future" (2001), "Rendez-vous in New York" (2003), "To The Stars" (2004) ou "The Ultimate Adventure" (2006) - os recitais a solo, como os dois que esta noite Chick Corea apresentará em salas certamente lotadas, são o contexto cada vez mais habitual em que a arte de Chick Corea melhor se deixa disfrutar.

Não percamos, portanto, a oportunidade!

 textos de Manuel Jorge Veloso