Cascais Jazz Legends

Phil Woods, Lew Soloff, Cedar Walton, Rufus Reid, Jimmy Cobb

Texto Introdutório

Ao relançarmos o “Cascais Jazz” após 21 anos de interregno, decidimos trazer de novo a Portugal alguns dos grandes músicos norte-americanos ainda activos que, entre 1971 e 1980, actuaram no Pavilhão do Dramático.

Entendemos ser esta a melhor forma de recriar uma época inesquecível do jazz, lamentando apenas que, por razões estranhas à nossa vontade, não seja possível contar com a presença de Sonny Rollins, talvez a maior figura viva do jazz do século XX e do be-bop.

Pensamos que esta é também a oportunidade certa para enaltecer o pioneirismo de uma iniciativa que, há 38 anos, permitiu juntar pela primeira vez públicos de vários gostos e de várias gerações que se iriam dispersar mais tarde por outros géneros musicais.

Para a posteridade ficou a recordação de uma série memorável e irrepetível de concertos que deixou uma marca única na história dos nossos festivais e que hoje recordamos com algum orgulho, satisfação e, naturalmente, com justificada nostalgia.

Phil Woods

Contrariamente ao que se passou com Lee Konitz, que igualmente participa neste festival, Phil Woods, também saxofonista-alto como aquele, é do ponto de vista estético um descendente directo de Charlie Parker, construindo a sua linguagem musical de uma forma muito mais emocional e menos abstracta.

Também mestre de referência no jazz moderno, Phil Woods é natural de Springfield, onde nasceu em 2 de Novembro de 1931, e, tendo feito os seus primeiros estudos musicais na Manhattan School of Music e na Julliard School (ambas em Nova Iorque), foi desde muito cedo influenciado por Benny Carter e Johnny Hodges, antes de ter descoberto Charlie Parker.

Extremamente prolífico, em termos discográficos, participando em numerosos discos gravados sob o seu nome ou em colaboração com os maiores músicos norte-americanos, ficaram na memória as suas parceriais com Gene Quill mas, tanto antes como depois, Phil Woods tocou ainda ao lado de Billy Holiday, Bill Evans, Oliver Nelson, Thelonius Monk, Dizzy Gillespie, Charlie Barnet, Bob Brookmeyer, a grande orquestra de Quincy Jones ou a sua própria Euroean Rhythm Machine que formou com grandes músicos europeus quando durante algum tempo esteve radicado no Velho Continente e com a qual participou logo na primeira edição histórica do Festival Internacional de Jazz de Cascais, em Novembro de 1971.

Rufus Reid

Rufus Reid é um dos grandes nomes do Jazz no contrabaixo e um daqueles raros músicos que será sempre maior do que o instrumento que toca, tal o domínio técnico e artístico que sobre ele exerce, projectando um som cheio e um forte sentido de tempo. A sua carreira conta com mais de duzentos e cinquenta registos discográficos, colaborações musicais com mestres como Stan Getz Joe Lovano, Kenny Barron, J.J. Johnson, Sonny Stitt, Thad Jones, Bill Evans e Dizzy Gillespie, e inúmeros prêmios internacionais.

Mas, se tal não bastasse para a sua mais do que justa distinção, Rufus Reid foi ainda responsável pela formação musical de muitos jazzmen a nível internacional, nomeadamente portugueses, tendo participado activamente nos primeiros cursos Projazz, no início da década de 90, feito que repete este ano.

Também no domínio da formação, é igualmente da autoria deste músico a obra The Evolving Bassist, livro que, passados quase trinta anos, ainda hoje é uma referência na aprendizagem do contrabaixo.

Filho de uma família sem qualquer tradição musical, Rufus Reid nasceu em Atlanta, em 1944, e cresceu em Sacramento, na Califórnia. Musicalmente, Reid iniciou-se pelo trompete, instrumento que viria, contudo, a preterir ao contrabaixo durante a sua passagem pela força aérea dos E.U.A. Com o apoio financeiro do irmão, graduou-se no Olympic College e na Northwestern University, respectivamente em 1969 e em 1971.

A entrada de Rufus Reid no jazz ocorreu em Chicago, cidade que lhe ofereceria, em 1970, a oportunidade de gravar ao vivo com Gene Ammons e Dexter Gordon. A esta primeira exposição profissional, sucederam-se colaborações com Bobby Hutcherson, Harold Land e Eddie Harris. Já em Nova Iorque, entre 1976 e 1977, Rufus Reid viria a tocar ao lado de Thad Jones e Mel Lewis. Posteriormente, e até 1979, o contrabaixista efectuou várias digressões com o inigualável e saudoso saxofonista Dexter Gordon. Em 1979, Reid inicia a sua carreira de docente no William Paterson College, instituição em que se manteve como Director dos Estudos de Jazz durante nada menos do que vinte anos.

Ao longo deste mesmo período, Reid esteve extraordinariamente activo como contrabaixista, tendo tocado com Jack DeJohnette, Dizzy Gillespie, Phil Woods, J.J. Johnson, Stan Getz e com o grupo TanaReid, formação co-liderada com o baterista Akira Tana. Em 1992, o músico tocou e gravou com André Previn, Kathleen Battle e a St. Luke’s Chamber Orchestra.

Neste ano, Reid apresentou ainda a peça “Two Faces”, um concerto para contrabaixo e trio para si composto por Benny Golson.

Do vasto acervo de registos discográficos de Rufus Reid, de salientar os seis álbuns da sua autoria (Perpetual Stroll, Seven Minds, Corridor To The Limits, Double Bass Delights, The Intimacy of the Bass e Alone Together), assim como Blue Motion, com Akira Tana, e os fabulosos concertos gravados ao vivo, em Copenhaga, com o genial Stan Getz: Anniversary e Serenity.

Jimmy Cobb

Num ano em que se comemoram os 50 anos da gravação de uma obra-prima do jazz de todos os tempos – o célebre Kind of Blue, de Miles Davis – é particulamente reconfortante que Jimmy Cobb, o único sobrevivente desse magnífico sexteto do grande trompetista, esteja presente neste ressurgimento do “Cascais Jazz”, incluído (tal como Phil Woods) no magnífico grupo Cascais Jazz Legends, especialmente formado para este evento.

Jimmy Cobb nasceu em Washington em 1929 e, começando a sua actividade musical profissional como baterista autodidacta, desde cedo acompanhando músicos como Charlie Rouse, Frank Wess, Billie Holiday ou Pearl Bailey.

No início dos anos de 1950 rumou a Nova Iorque, tendo-se juntado a Earl Bostic, com o qual gravou os seus primeiros discos, aos quais se seguiram outros álbuns com Dinah Washington (que chegou a ser sua mulher) ou o saxofonista Julian “Cannonball” Adderley, juntamente com o qual integrou durante alguns anos o sexteto de Miles Davis, responsável por gravações de referência.

Depois de abandonar o grupo de Miles, Jimmy Cobb tem até hoje mantido a sua actividade, tocando e gravando com Wynton Kelly, Wes Montgomery, J. J. Johnson, Sarah Vaughan ou Kenny Burrell. A título de curiosidade, diga-se que foi durante uma longa colaboração com o trompetista Nat Adderley que Jimmy Cobb actuou pela primeira vez no Estoril Jazz.